Modelo físico cujos blocos fundamentais são objetos extensos unidimensionais. O interesse na teoria das cordas é dirigido pela grande esperança de que ela possa vir a ser uma teoria de tudo.

12 outubro 2007

Melhor memória

Deitada na minha mais nova velha cama, eu percebi: eu morri. Olhando para fora, para a janela, eu vi o quão contraditória é a minha vida de dentro e a vida que existe fora. E eu tô morta. Morta de vontade. Morta de ânimo. Morta de existência. Não digo que estou morta já a algum tempo, só que percebi hoje que as vezes estou morta. Morri, mas ainda dá tempo. Dá tempo de pensar. Se isso fosse capaz de trazer de volta a vida, no que eu iria pensar?

Sem perceber o quão raras seriam aquelas manhãs de sabado e a diferença que elas me fariam, eu ia até de má-vontade, entrava no carro, no banco de trás, e passava em todos aqueles lugares sem a menor graça para uma criança de 7 ou 8 anos. Eram dois, três, quatro, as vezes até cinco lugares cinzas ou marrons e cheios de papéis e pessoas de óculos, camisas com botões e nenhum sorriso no rosto, antes de chegar na loja toda colorida e cheia de portas de vidro, onde eu mal alcançava a primeira prateleira de cds.

Mas ali era diferente dos outros lugares adultos. Ali até os mais adultos tinham recaídas diante dessa ou daquela "raridade", como meu pai costumava falar. E eles sorriam. E eles pensavam, tinham dúvidas, pareciam mais com pessoas e menos com máquinas ali naquela loja. Apesar de ser a melhor parada da manhã de sabado, ainda assim, era quase um tortura para mim aquelas prateleiras. Primeiro porque eram tantos os "melhores" cds, que eu não sabia qual eu pedia para a moça pegar para mim, e corria, em seguida, atrás do meu pai, para falar na orelha dele o resto do dia o quanto aquele cd era meu preferido. Segundo que, quando eu decidia, era uma decisão completamente em vão, já que nunca conheci ninguém que gostasse mais do seu dinheiro bem guardado na carteira como o meu pai.

Mas aquele dia, aquele dia foi diferente. Eu andei entre aquelas prateleiras e vi, pela primeira vez, aquele desenho de cata-vento colorido, de letrinhas coloridas, de tantos nomes coloridos: A Casa de Brinquedos - Toquinho. Era tão bonita aquela capa. Era encantadora. Era apaixonante toda aquela possibilidade de mundo dentro de uma caixinha. E eu, que nunca tinha ouvido nenhuma música daquelas, nunca tinha visto propaganda daquele albúm, nunca nem saberia que ele existia se não fosse aquele sabado, alcancei o cd sozinha e corri pro meu pai, mas achando, lá no fundo, que não seria dessa vez também.

Cheguei correndo na frente dele e levantei aquela caixinha colorida, mas ai não foram só os meus olhos que brilharam. Lucinha Lins, Simone, Tom Zé, Chico Buarque, Paulinho Boca de Cantor. Qualquer aldulto que ainda tivesse um pouco de criança, ficaria balançado. Foi assim: pela primeira e única vez na minha vida, meu pai me comprou um cd.

Foi o cd que eu mais ouvi naquele resto de infância. Hoje eu percebo que não foi só um cd. Foi um abrir de portas para um aspecto cultural que eu carreguei desde aquele dia, e, não tenho dúvidas, meu pai sabia o que estava fazendo quando sorriu para mim e falou: "Este tudo bem". Depois daquele, ele não se atreveu a comprar mais cd nenhum para mim. E se toda a magia do ato se tornasse algo rotineiro? Não, ele não podia arriscar. E eu não o culpo, entendo completamente.

Acho que hoje, não levaria outra memória para as minhas mortes de quarta a tarde.

15 comentários:

Arthur disse...

eu gosto do seu pai.

e vou lembrar-me disso quando tiver meus filhos xD

Letícia Mello disse...

É engraçado ler uma coisa de que a gente ja tem uma certa referência e muito melhor é ver a diferença em
que abordamos o mesmo tema. Amei de mais, lindo, emocionante, ainda mais conhedendo as personagens neh?!

Te amo de mais! Brigada por ter feito o texto!

Saudades!

BJão!

Anônimo disse...

Lindo. Meu pai, como o seu, levava-me para lugares mágicos. Quando conheci minha primeira biblioteca. A primeira loja de livros... E quando ele comprou-me a coleção inteira do Sítio do Pica-Pau Amarelo... Nossa lembro-me até hoje quando fui batizada no mundo das letras... Tudo por causa do meu pai. Nunca mais ele comprou-me outro livro. Mas, e precisava?

Anônimo disse...

simplismente o melhor cd,
na melhor infancia,
e claro, com a melhor pessoa pra ouvi esse cd comigo,

:*

Anônimo disse...

perfeito

Unknown disse...

Seu pai sabe das coisas. Manda um abraço para ele.


* Não fique bolada, aquela história é maluquice da minha cabeça doida.

:p

deh gouthier; disse...

aai, eu gostei tanto desse! tão simples e bonitinho e aah, eu gostei x)
hum, e tem resposta pra vc num certo terceiro parágrafo, line.
;*

deh gouthier; disse...

eu vou ter mesmo que pedir de novo pra vc largar de ser bonita assim? ;)

obrigada, sô. ;*

Hugo Moura disse...

A infância é demais. Coisas que para um adulto podem parecer sem importância, podem ser MUITO para uma criança.

Talvez o seu pai nem se lembre disso, mas pra vc, aquele cd, aquele dia, foi (pelo jeito continua sendo) muito importante.

Bom texto. Parabéns.

:)


http://nossomundoimundo.blogspot.com/

Anônimo disse...

é incrível como eu termino de ler seus artigos sorrido.

um beijo! (e a felicidade continua custando apenas 25 centavos. pode ir lá que ainda tem ;D)

Anônimo disse...

que que eu achei?
uh...
ah!
tom zé... *-*

Anônimo disse...

É por essas e outras que eu sou sua fã Line.
Diferente de tudo que eu já vi. *.*
uum beijo querida! :*

Anônimo disse...

tipo assim...
eu ia ler mas me deu uma preguiça fudida...
mas ai as fotos chamaram minnha atençao
eee meu deus quanta trela de voces duas no provador tirando foto com roupa da riachuello. to rindo mto aqui feito uma idiota.

obrigada ;]
asuhsuashhasu

Anônimo disse...

res:

móveis! x)

Anônimo disse...

eu queria ler textos em um blog e acabei chegando aqui.
e por motivos só meus eu chorei com esse texto.
parabens.
realmente excelente!