Modelo físico cujos blocos fundamentais são objetos extensos unidimensionais. O interesse na teoria das cordas é dirigido pela grande esperança de que ela possa vir a ser uma teoria de tudo.

12 outubro 2008

do dia em diante

Quanto tempo faz afinal? uns 5 minutos? talvez dois dias.. 9 meses? 3 anos? algum tempo sem olhar pela janela. estranho sim para quem já sabia da fixação dele por janelas. mas ele mal ficava em casa. desde que ele se mudou para o apartamento novo, grande, pé direito alto, 3 quartos, uma suite, seu sofá de couro legitimo e sua tv de plasma, quase intocados. onde andava ele então? se perguntassem isso a ele, ele não saberia responder. não fazia a menor idéia de por onde esteve todo esse tempo, mas o narrador onisciente sempre sabe. ele acordava as 5h30, tomava banho, fazia a barba, descia para comprar pão, que comia com requeijão e café, e saia as 7h para o escritório, fazia um caminho sem muito trânsito para chegar ao escritório as 7h30. almoçava no restaurante por quilo duas quadras ao lado, ao meio dia e meio e matava o tempo até as 14h para voltar ao seu trabalho massante e sair as 21h. o que se podia fazer, ele era o chefe e não ia embora enquato não estivesse tudo no seu devido lugar; papéis, formulários, numeros de telefones, processos. e ele chegava em seu apartamento sem nem reparar nas coisas bonitas e caras que ele escolheu a dedo um tempo atrás para ser feliz. e estava tudo lá. a vista, as cores, as janelas. todas lá, só não acumulavam poeira porque ele paga uma diarista. chegamos agora ao ponto principal: a diarista. mulher de uns 43 anos, solteira e mãe de um menino de 22 anos. mora longe e trabalha de diarista em mais uma casa além dessa, já que essa nunca tem nada fora do lugar nem muito o que fazer. nesse dia, no entanto, ela, tão milimetricamente chata com a limpeza, tinha uma consulta no hospital publico que estava agendada a quase dois anos e não foi trabalhar na outra casa. saiu correndo apara pegar dois onibus para chegar a tempo e, por uma ironia, talvez do destino, talves não, esqueceu a janela da sala aberta. aberta, escancarada, gritando, olhando, chamando por ele quando ele chegou, 22h, em casa. foi a primeira e unica coisa que ele viu e que ele se lembrava: a cidade, vista do 11º andar, toda iluminada. colorida. acesa. postes, farois, carros, janelas de casas, de predios. a cidade como ele achava que nunca tinha visto, mas eu sei que já. desse dia em diante, ele parou de trabalhar nos finais de semana, e passou a chegar em casa as 8. desse dia em diante ele passou a olhar a noite pela janela do seu apartamento que ficou sempre aberta. desse dia em diante até alguém aparecer para fecha-lá de novo. mas não se preocupem; a diarista tem agora um plano de saúde e tem consultas mais frequentemente.

Um comentário:

Roberta disse...

a-m-e-i :)
muito bom! e é a sua cara fazer contos assim : sobre janelas
*-*