Modelo físico cujos blocos fundamentais são objetos extensos unidimensionais. O interesse na teoria das cordas é dirigido pela grande esperança de que ela possa vir a ser uma teoria de tudo.

16 junho 2007

Vírgula

Você já brincou de ficar à toa? Já brincou de sentar no chão gelado de azulejo branco manchado e olhar na direção da janela pra seguir com a cabeça a presunção ir e vir em forma de fiapo de roupa cara que a gente compra e nunca usa? E já reparou como é doce a voz dele no balanço fácil da musicasinha não-famosa e popular quando o quarto está tão claro que parece praia? E o pé fica liso e sempre parece feito quando se pensa em alguma coisa amena e põe no chão depois de um sol inteiro voltar ao meridiano. E você encherga a preguiça na barra da calça rasgada e nos ventos que não enredam o cabelo. E o cheiro de hortelã faz parecer que todas as convenções se esvaiam rapidamente pelos olhos semi-abertos. Olhos estes que refletem aquela mesma construção de dois anos atrás e a mesma água de uma vida que ouve bossa-nova desde todas aquelas vezes e não sabia o tamanho do cômodo. Não dá pra não notar a poeira laranja dançando na claridade da manhã interrompida pelo nome e pela data do cabeçalho. Ela conta segredo de duas paredes dentro do quarto que nem é dela. Ninguém tem culpa da tristeza que vai e cai só a saudade trazida pelo mesmo vento que mexe com o cabelo de laranja. Ele disse que tá na hora de acabar com esse negócio de viver longe de mim. Balela. Você já brincou tanto de escrever que sentiu que o tempo passou pela janela e envelheceu toda a cidade levando a criança com o caderno de calos para tão longe que se esquece de procurar o infinito do verbo conjugado? Você já esqueceu de por vírgula?

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